A denúncia pelo crime de corrupção passiva contra o presidente Michel Temer é uma obra de “ficção” na avaliação do ex-vice-decorativo e atual ocupante do Palácio do Planalto. Durante a primeira aparição pública após ser confirmado como denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Temer usou ilações para dizer que não fazia ilações e desqualificou as provas que não são provas, pois são contra ele. Ao lado dele, um séquito de deputados que, segundo o presidente, permitiria quórum para abrir uma sessão da Câmara, além de ministros e senadores, grande parte implicada direta ou indiretamente nas mais diversas investigações de corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes de colarinho branco. Diante da cena constrangedora que se tornou a defesa do presidente, restou atacar a denúncia com argumentos repletos de ilações contra Janot e um antigo assessor. Temer, todavia, tem memória curta ao usar um ex-assessor para criticar o procurador-geral da República. Esqueceu-se dos inúmeros aliados que caíram num passado recente, a exemplo de Rodrigo Rocha Loures, companheiro de denúncia na PGR, ou de Eduardo Cunha, preso desde outubro de 2016. Isso numa restrição a companheiros de jornada que estão atrás das grades, já que nomes apenas citados gerariam uma lista pouco fácil de mensurar. Temer ficou pouco satisfeito com o roteiro orquestrado por e com ele. E até para a divindade o presidente apelou. “Não sei como Deus me colocou aqui", como frisou. Se o próprio presidente não sabe, os brasileiros se perguntam com cada vez mais frequência. Com um futuro pouco previsível, o jeito é esperar que a obra ficcional chegue ao fim o mais rápido possível, já que a realidade ainda dói para a maioria daqueles prejudicados com esquemas que dilapidaram os cofres públicos. (BahiaNotícias)